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1964: o ano que não acabou.

1964: o ano que não acabou.

Março 31, 2019 - 12:19
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Perseguições políticas, intensa repressão institucionalizada, torturas com direito à estupro e bichos vivos, assassinatos... poderia ser uma descrição da ação policial nas favelas hoje em dia, mas são as características de um período histórico onde tudo isso era legal e institucionalizado. Um período histórico que Jair Bolsonaro, presidente eleito, quer comemorar.

É verdade que ainda hoje a violência do Estado contra a população existe e se encontra em exemplos cotidianos, como as diversas mortes em operações da Polícia Militar nas comunidades, a repressão à comunidades indígenas como a aldeia Marakana, a repressão a movimentos políticos e sociais e a perseguição à militantes, como no caso dos 23 presos políticos dos protestos de 2013 e 2014, casos como o de Rafael Braga e o desaparecimento de Amarildo, as remoções em prol dos grandes eventos no Rio de Janeiro e demais atrocidades realizadas pelo Estado democrático de direito de fato não são democráticas ou sequer respeitam os direitos da população pobre. Agora imagine um país comandado pelos mesmos que não apenas defendem estas atrocidades como as executam?

Isso foi o golpe de 1964. A tomada de poder pelos militares a partir de um golpe de Estado nasceu de uma mentira - uma tal tentativa por parte de supostos comunistas de tomarem o poder, o que nunca foi comprovado pela História e que na verdade, o que se tem descoberto são atentados orquestrados pelos próprios militares visando culpar militantes de esquerda da época. Esta mentira, 55 anos depois, volta a ser difundida, desta vez por um governo eleito democraticamente, o que nos leva até mesmo a pensar os limites da democracia burguesa.

Por que devemos repudiar a tentativa de Bolsonaro de comemorar o golpe de 64?

Qualquer tentativa de apagar a verdade e a História deve ser repudiada. Quando um presidente pede ao seu braço armado que comemore uma ditadura sanguinária, deve-se abrir muito bem os olhos para o que está acontecendo.

O documento AI-5, o marco da intensificação da repressão e da censura, é completamente ideológico e defende claramente os interesses dos poderosos e políticos da época. A censura aos artistas e aos jornalistas foi um marco desta política e fez com que muitos fossem exilados e outros ficassem desaparecidos. Jornalistas renomados hoje em dia sofreram com as torturas do regime, como é o caso da Miriam Leitão, na época militante de oposição ao governo.

Não existia uma oposição que não fosse controlada pelo Estado, e se hoje podemos manifestar nossas opiniões e indignações livremente - até certo ponto, pois como já citado, esta "democracia" ainda está longe de ser uma democracia - é porque naquela época haviam pessoas lutando para que o regime caísse, como caiu.

Se hoje tenta-se por meio de políticos e falsas informações apagar uma História de sangue e dor, devemos nos opor, e nossa arma deve ser a verdade. Informe-se, busque pesquisar sobre o que realmente foi o regime militar, converse com seus parentes, amigos e amigas sobre isso, pois aqueles que estão no poder temem um povo informado e organizado.

Opor-se à ditadura militar não significa apoiar as atrocidades cometidas pelo Estado democrático de direito

Devemos reconhecer que existem diferenças entre políticas. Nem toda política é igual. Os anos de chumbo foram uma intensificação brutal da repressão institucionalizada, e reconhecer isso faz parte até mesmo de analisar o contexto da repressão atual.

Mesmo não sendo políticas iguais, o Estado democrático de direito, ou "democracia burguesa", ainda mantém institucionalizada a repressão e a criminalização à militantes, a violência contra os pobres e periféricos, o racismo da justiça, os assassinatos e a tortura, ainda que em menor grau e muitas vezes na clandestinidade, orquestrados por mílicias ou grupos de extermínio.

A luta contra a repressão e por liberdade e democracia real ainda não acabou, e deve ser travada diariamente. Hoje vivemos uma democracia falsa, ontem vivíamos uma ditadura formalizada. Não podemos abrir brechas para o retrocesso e não podemos nos conformar com a manutenção do status-quo.

Por uma democracia direta, contra o Estado burguês e contra a ditadura militar.

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