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São Gonçalo-RJ: Estudantes do C.E. Pandiá Calógeras fazem ocupação, mas direção e professor promovem desocupação

São Gonçalo-RJ: Estudantes do C.E. Pandiá Calógeras fazem ocupação, mas direção e professor promovem desocupação

Abril 25, 2016 - 00:00
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Nesta segunda-feira, 25 de abril, os estudantes do Colégio Estadual Pandiá Calógeras ocupam a escola após as aulas do turno da noite e marcam assembleia para o dia seguinte pela manhã. A direção da escola disse não se opor e entrega as chaves da escola. No entanto, diretores e um professor promovem a rivalidade entre alunos com o objetivo de causarem a desocupação, com isso a assembleia não pôde ocorrer, mas a ocupação permanece.

Alunos denunciaram que durante a semana passada, a direção e o professor de Biologia impediram que os alunos discutissem os problemas da educação estadual e debatessem sobre ocupação. Segundo estudantes, eles eram impedidos de passar nas salas para dar informes aos alunos e quando entregavam panfletos para os seus colegas, a direção e o professor de Biologia retiravam os panfletos.

“A diretora da noite que foi nas salas desmentir tudo o que o grêmio falou a respeito de ocupação, dizendo que é crime e que nós queríamos simplesmente acabar com o turno da noite.” - Aluno do Pandiá

A direção e o professor também teriam ido nas salas fazendo campanha contra a ocupação, dizendo que eles perderiam o ano, que os alunos ocupantes causariam danos à escola e desapareceriam com documentos. Segundo alunos, o professor de Biologia ameaçou reprovar alunos que participassem da ocupação, incitou alunos a serem contrários à ocupação e a:

“jogarem cadeiras, bomba, dizer não à ocupação, organizava coros com os alunos e isso se repetiu hoje de manha” - aluno do Pandiá

“Para garantir que na assembleia tivessem só alunos, não tivesse nenhum professor incitando e nem diretor indo em sala antes para poder desmentir tudo que a gente já falou com ele. A gente vai entregar panfleto, eles vão lá e tomam da mão. A gente ocupou o colégio para poder garantir que só alunos participasse da assembleia.” - Aluno do Pandiá

Na terça-feira pela manhã, os diretores da escola e o professor de biologia iniciaram um movimento pela desocupação, causando muita confusão. Os alunos ocupantes anunciaram que haveria uma assembleia apenas de estudantes às 9:30 da manhã. O portão estava sendo controlado pelos alunos ocupantes que impediam a entrada da direção.

O professor chamava alunos para promoverem a desocupação, ensinando coros pela desocupação e deu uma caneta para que os estudantes rabiscassem os cartazes da ocupação. Em alguns momentos, alunos contrários forçaram a entrada, se aproveitando de pessoas que saiam e entravam da ocupação. Alguns estudantes reclamaram que se machucaram com os empurrões. Uma aluna do lado de dentro do portão, chegou a cair.

“A diretora mandou mensagem, para todo mundo postando no facebook, que não era para nenhum aluno vir. Como ia ter assembleia?” - Aluna do Pandiá

“Eu vi, um professor […] puxando coro: “desocupa Pandiá”. Aí todos os alunos que estavam em dúvida, foram à favor do professor. Professor é uma autoridade, ele está ali para te ensinar […] - Aluno do Pandiá

Muitos alunos que estavam do lado de fora do colégio também estavam à favor da ocupação, mas não conseguiam entrar pois os ocupantes estavam com medo de destrancar o portão e iniciar mais um empurra-empurra. Com isso, houve confusão do lado de fora entre alunos contrários e à favor.

“Não foi assim, só vai entrar quem apoia o movimento. A gente estava com medo […] Por que não sabíamos o que iam fazer, se só queriam entrar aqui ou se iam invadir batendo em todo mundo, quebrando tudo. Na dúvida vamos arriscar? […] Então, preferimos a segurança […] até acalmarem os ânimos. Quando estivesse tudo calmo a gente convocava uma assembleia, só que não teve calma [...]” - Aluno do Pandiá

“Como a gente vai fazer uma votação agora se eles querem meter porrada na gente e estão dizendo tudo ao contrário do que realmente aconteceu?” - Aluna do Pandiá

Ainda pela manhã, um carro branco chegou com dois homens de coletes e armados dizendo que eram policiais e queriam entrar. Professores pediram a identificação mas não se identificaram. Pouco tempo depois, cinco jovens arrombaram um outro portão que dá acesso à outra parte área da escola e entraram com camisas tampando o rosto. Um policial militar fardado e identificado, que estava próximo, entrou portando uma pistola. Os jovens fugiram pulando o muro que dá acesso à uma outra escola atrás.

Com o outro portão aberto, pouco depois, vários estudantes entraram na escola junto com o professor de biologia, no entanto o acesso ao setor onde estavam os ocupantes estava fechado, então os alunos subiram no telhado da cantina para alcançar onde os ocupantes estavam. Entraram e tentaram destrancar os outros acessos. Novamente dois policiais entraram e estes estudantes também fugiram pulando o muro que dá acesso à escola ao lado.

Os ocupantes conseguiram contatar a defensoria de justiça que chegou já pela noite. O defensor afirmou que contactaria o coronel da PMERJ responsável pela região para garantir a segurança externa da escola. Professores grevistas também foram chamados para reforçar a segurança dos alunos. Mesmo assim, os estudantes estavam receosos de mais represálias.

Estudantes ocupantes afirmam que vêm sofrendo ameaças desde segunda-feira, o dia da ocupação. A primeira ameaça veio por uma ligação ao telefone público que há dentro da escola.

 

A HISTÓRIA SE REPETE

O que ocorreu com o C. E. Pandiá Calógeras vem se repetindo em diversas escolas. No C. E. Leopoldo Fróes, a direção e uma orientadora educacional também causaram a divisão entre alunos, acirrando o conflito. Pessoas estranhas à escola também apareceram para garantir a desocupação que acabou ocorrendo por medo de que ocorressem agressões.

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Niterói-RJ: Diretor do C.E. Leopoldo Fróes descumpre acordo e cancela aulas para que alunos não discutam sobre ocupação em assembleia

No C. E. Professor Assis Ribeiro, também houve essa tentativa de polarização entre os estudantes, mas foi rapidamente contornada por alunos e professores para evitar maiores conflitos.

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Até mesmo o primeiro colégio ocupado, o C. E. Mendes de Morais, vem sofrendo constantes ameaças. Nos primeiros dias de ocupação, os estudantes denunciaram que a direção incentivava outros alunos a promoverem confusões. Bombas foram soltadas dentro da escola e vários momentos de conflito e ameaças pelo whatsapp e verbais.

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Nas redes sociais, estudantes do Ciep 114, em São João de Meriti, mostraram imagens de um miliciano que ameaçou, com uma arma, estudantes que tentavam ocupar a escola e professores. Imagens mostravam o miliciano com livre acesso à escola e próximo à direção. A direção afirmou que tal pessoa era ex-funcionário da escola há tempos atrás e que agiu por conta própria.

Várias outras escolas vêm reclamando de ameaças vindas de outros estudantes, milicianos, policiais e integrantes do crime organizado local. Em todos os casos há relatos da participação da direção e/ou outros funcionários da escola.

A SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO RJ

O estado do Rio de Janeiro conta com 75 escolas ocupadas. A Secretaria de Educação afirma ter interesse em dialogar com os estudantes, mas nessa segunda-feira suspendeu o vale transporte (RioCard) e decretou férias apenas para as escolas ocupadas e não se posicionou em favor do protagonismo dos estudantes. Chegou a fazer o pedido de reintegração de posse do C. E. Mendes de Moraes, o mesmo foi suspenso.

Estudantes do Instituto de Educação Professor Ismael Coutinho (IEPIC), ocupado há três semanas, afirmam que a suspensão do RioCard não só prejudica os estudantes que querem contribuir com a ocupação, mas atrapalha os alunos que necessitam do transporte para cumprirem com suas horas de estágio de docência e aos alunos que querem participar do Pré-vestibular organizado pelo OcupaIEPIC que se iniciará na próxima segunda-feira.

Os estudantes repudiam a decisão da SEEDUC e afirmam que “ocupação não é férias”, mas “muito trabalho e estudo”.

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