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O Povo que se Atreveu a Resistir: Ação Direta e Resistência na Comunidade de Pinheirinhos

Janeiro 16, 2012 - 00:26
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Texto da Organização Popular/RJ sobre o processo de luta dos moradores do acampamento do Pinheirinho, localizado na zona sul de São José dos Campos, que resistiram com cães e armas improvisadas a reintegração de posse do local.

Organização Popular

Começamos este texto com uma imagem, uma imagem que chega aos olhos, mas atravessa o coração, e deste, tira suas lições. De um lado, mães, crianças, trabalhadores e trabalhadoras; sem-tetos. Do outro, um especulador imobiliário, o governo do estado de São Paulo e a prefeitura de São José dos Campos. De um lado, o direito de viver, de ter um teto, de ter um lar. Do outro, o direito de explorar, de especular, de lucrar sem trabalhar. De um lado, a terra como vida e trabalho, de outro a terra como lucro e mercadoria! O que vemos é um conflito de classes. De um lado o nosso povo, sofrido, mas sempre aguerrido. Do outro, os exploradores e seus instrumentos de repressão e a justiça dos ricos em seu favor.

A comunidade Pinheirinhos começou a se formar em fevereiro de 2004. Surgiu como alternativa a outra ocupação despejada. Nela, vivem aproximadamente 1200 famílias de trabalhadores/as, que ocupam o terreno por muito tempo abandonado, cujo dono, é o milionário e especulador da bolsa de valores Najis Nahas. No dia 11 de Janeiro deste ano, a comunidade foi surpreendida por uma visita da polícia militar. Junto da polícia, o aviso de reintegração de posse, emitido rapidamente pela juíza Márcia Loureiro, justiça que mostra sempre sua eficiência em serviço dos dominadores. O que caminhava para uma solução rápida por parte dos exploradores, ficou mais difícil diante da reação popular. Eis que a comunidade resolve resistir. Arma-se com paus, escudos improvisados e capacetes. A imagem do nosso povo se armando é a imagem da resistência e da luta popular contra os desmandos do capital. É uma imagem de classe, ainda que os demagogos pagos pela tv, os descrentes e os covardes, tenham que insistir cotidianamente que as classes não existem. É a imagem daqueles que lutam por suas vidas, por suas casas, por seu local de moradia. É a imagem de que só há uma saída contra os exploradores e dominadores: luta, resistência, organização popular. A situação da comunidade do Pinheirinhos, não é uma situação isolada, nem no Brasil, nem no restante da América do Sul. Localizada na zona sul de São José dos Campos, como diversas comunidades, ocupações e favelas desse nosso continente, a comunidade de Pinheirinhos sofre a ganância e as conseqüências da fria lógica de livre mercado capitalista. Quando o capitalismo se consolidou, conseguiu transformar em mercadoria dois pilares vitais da comunidade e do bem-estar dos trabalhadores: a terra e o trabalho. O que está acontecendo na comunidade dos Pinheirinhos é a ação do livre-mercado capitalista e da política burguesa contra a ação direta popular e a política dos trabalhadores. É a ação da dominação capitalista sobre nós, trabalhadores! Dominação econômica, representada pelo burguês dono do terreno onde foi construída a comunidade, e dominação política representada pelos políticos, pelo governador do Estado de São Paulo e a máquina do governo federal, estadual e municipal. Mas não tenhamos ilusões. Este sistema de dominação não se desmonta por si só, como se a cura estivesse na doença (como acreditam alguns revolucionários) e muito menos é algo que pode ser emperrado por ações descoladas umas das outras, como uma gripe que o sistema de repente pega e que se volta contra si mesmo. Este sistema é forte e mostrou que sobrevive a grandes sacudidas. Este sistema só pode ser destruído pela ação radical de movimentos sociais fortes, bem organizados, e que consigam criar firmes alianças entre os trabalhadores do campo e os da cidade. Retomar a terra e o trabalho que o capital nos roubou. Multiplicar a resistência de Pinheirinhos nos lugares da nossa classe: favelas, comunidades, ocupações, bairros da periferia.

Do caso de Pinheirinhos podemos tirar muitas lições. Primeiro, que é justo que os trabalhadores se organizem e resistam às instituições e poderes capitalistas. A violência do oprimido é sempre uma autodefesa, e é, portanto, legítima. O que também chama atenção, é que a resistência é feita e organizada pelo próprio povo. Não é uma ação direta feita por uma minoria revolucionária, de foco, ou de ativistas em seu nome, fato corriqueiro na maior parte das ações intituladas como tal, muito menos é uma ação deslocada da realidade. Uma ação prematura e mal organizada, ou discutida sem o ritmo que exige a classe, por mais bem intencionada que seja, pode desmoralizar as expectativas de transformação social. Por isto, é importante ouvirmos o compasso da classe como se escuta uma batida de um coração. Essa é a segunda lição. Se não houvesse chance de vencer, os trabalhadores não colocariam seu coração no centro desse pequeno exército. A multidão tem consciência de si. A consciência de classe se faz na luta, não vem de fora, não é importada por intelectuais, mas se constrói no processo, o que reforça a tese, que as minorias revolucionárias não devem andar a frente do povo como querem as vanguardas, mas sim, ombro a ombro na luta, construindo o poder e a organização popular: nem um passo atrás, nem um passo a frente. E como se faz isto? Ouvindo. Pensando coletivamente. Respeitando, integrando e fortalecendo o ritmo popular. Uma tarefa de paciência, regularidade no trabalho de base e acima de tudo de construção de um projeto de poder popular que parta das necessidades (educação, cultura, terra, trabalho, etc.) e não das “ansiedades” que se pretendem por justiça, revolucionárias, mas impõem seu ritmo de fora para dentro das lutas como o clique de um relógio, não como a batida de um coração.

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É sempre importante, também frisar nesses casos, o papel da polícia. Essa será nossa terceira lição. A polícia não está “em disputa” como desejam alguns grupos políticos. A polícia é o instrumento de extermínio e de violência da burguesia econômica e da burocracia política contra os trabalhadores. A idéia do “trabalhador policial” não resiste à menor análise histórica. Um policial com consciência de classe é SEMPRE um ex-policial. A polícia sempre esteve ao lado dos opressores e dominadores. A polícia protege a propriedade privada, pilar da dominação econômica e os interesses dos poderosos. O povo se impôs de forma revolucionária não quando a polícia e o Estado estiveram em disputa, mas sim, quando conseguiu criar instrumentos de poder popular que fizeram do nosso povo, um povo forte. Um povo forte é o elemento central da crise dos Estados, dos governos e de suas instituições. Um povo forte é capaz de enfrentar os dominadores, e vencer!

Outra lição, a quarta que esse conflito nos traz é o papel da justiça. As eleições, os aparatos políticos da burguesia (parlamentos, assembléias legislativas, prefeituras, judiciário) só servem para ferrar e massacrar trabalhadores. A balança da justiça, sempre pesa para quem pode exercer mais poder e tem mais força social. Não há força social sem organização. E não há ruptura revolucionária sem classe, sem povo, sem movimentos sociais organizados e combativos. Chegamos à quinta, e última lição. Precisamos semear um novo mundo a partir da luta contra o velho! Precisamos tomar o exemplo dos trabalhadores de Pinheirinhos como a batida de nossos corações. Mas tomá-lo a partir do que já existe, construindo o caminho com o material e as pedras que o terreno da história nos oferece, mas sem jamais perder de vista, as lições que aprendemos com a imagem da resistência dos trabalhadores e trabalhadoras. Sem jamais perder de vista, que a opressão e a injustiça fazem parte do funcionamento do sistema de dominação capitalista. Sua derrota se constrói a cada dia na luta.

Todo apoio aos trabalhadores e trabalhadores da comunidade de Pinheirinhos!

Todo apoio a ação direta e a organização popular!

Criar um povo forte!

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