Porto Alegre-RS: VIII Feira do Livro Anarquista é cancelada
Na manhã de ontem (25/10) a Polícia Civil Gaúcha cumpriu em Porto Alegre (RS) e na região metropolitana uma dezena de mandados de busca e apreensão em espaços libertários e casas de indivíduos que identificaram como anarquistas. Os mandados são parte de uma investigação que está acontecendo há mais de um ano. Entendemos que não é coincidência que essa ação da polícia seja deflagrada apenas dois dias antes da 8ª Feira do Livro Anarquista de Porto Alegre.
Em virtude desse contexto de repressão e perseguição a grupos e indivíduos anarquistas decidimos cancelar a a Feira do Livro Anarquista de Porto Alegre deste ano. Desaparecemos, abaixo dos radares, somente para reaparecer noutro ponto sem deixar de construir espaços e momentos de liberdade. O mapa não é o território, e para isso o Estado e o Capital são míopes.
Não nos surpreende que a polícia esteja iniciando uma campanha que culpa por associação pois não possui nenhuma evidência. É o papel da polícia incriminar e forjar provas. Nas manchetes, livros anarquistas, faixas e cartazes são as “provas do crime”. Isso torna explícito que qualquer expressão que não se submeta ao Estado será criminalizada e que não há liberdade na democracia e no sistema capitalista. Essa liberdade, de fato, nunca existiu sob nenhum governo, a não ser como uma mera ilusão a ser dissipada assim que não fosse mais conveniente aos interesses do interesse do capital. É o que acontece agora em diversos países, com o crescimento da repressão, do fascismo, da xenofobia.
Em razão de tudo isso, entendemos que, de momento, é melhor nos rearticularmos desde outro ponto, longe dos holofotes. É uma decisão que nos dói muito tomar. Ainda mais depois do esforço e do carinho que dedicamos para organizar esse evento, de todas as propostas de atividades que vieram de perto e de longe, das pessoas que já estavam se deslocando para cá e também por quebrar esse ciclo, no que seria o oitavo ano consecutivo de feiras do livro anarquistas na cidade.
Sabemos que estes ataques partem do que há de pior entre nossos oponentes. Tomam diferentes formas, mas fazem parte da mesma série que podemos reconhecer em outras esferas. Em outros casos, se valem de um discurso moral para fazer censurar, como na exposição Queer Museu, de discursos técnicos para manter desigualdades, como o engodo de que “a economia vai bem” enquanto a miséria só se faz aumentar. Neste, usam de factoides e de violência física buscando manter o controle sobre as mentes e corpos das pessoas que pretendem dominar. Enquanto tentam explodir molotovs de garrafa PET, nos fortalecemos.
Cerquemos de solidariedade aquelas e aqueles que estão sofrendo criminalização. Da Itália à Argentina, dos Estados Unidos à Rússia, nossa luta é a mesma.
Não nos rendemos e não perderemos nosso desejo ardente pela liberdade!
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