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As Expectativas Frustradas do Início do Século XXI

Maio 05, 2012 - 14:25
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Wallace dos Santos de Moraes – outono de 2012 [*]

O século XXI começou com a maior potência econômica e militar do mundo sofrendo o maior ataque em seu território de sua história. Na Europa, os movimentos anti-globalização marcaram presença em todos os encontros das elites políticas e econômicas mundiais, demonstrando sua insatisfação com as desigualdades e ataques ambientais produzidos por um sistema que coloca o lucro acima da vida. A América Latina começou o século em polvorosa com movimentos indígenas em alguns de seus países e populares mais amplos em outros, criticando o neoliberalismo impenitente. No Brasil, o século passado terminou com um grande movimento de trabalhadores rurais sem terra, ocupando e denunciando o latifúndio, prometendo muito para o século XXI. Quais foram os resultados práticos de mudanças desses movimentos pelo mundo?

Um negro foi eleito presidente da maior potência mundial em um dos países mais racistas do planeta. Um operário, retirante, nordestino, fundador de um dos maiores partidos de massa do mundo, chegou a presidência no Brasil. Um indígena foi eleito para o maior cargo político da Bolívia. Vários partidos de esquerda chegaram ou voltaram ao poder na Europa e na América Latina, com destaque para os sandinistas na Nicarágua. Mas no plano da economia política, quais mudanças concretas aconteceram? As mudanças foram poucas e praticamente efêmeras. Nos EUA, a chegada do negro ao poder, não alterou a política externa agressiva do país, nem melhorou a vida dos ex-escravos no país. Na Bolívia, os indígenas passaram a ter um representante na presidência da república, mas não conseguiram com isso qualquer mudança na sua qualidade de trabalho precário, com parcos salários, ou reaver suas terras perdidas por séculos. Na Nicarágua, os sandinistas se transformaram em administradores dos interesses do capital, ignorando o empenho, a luta, a doação de diversos lutadores que foram assassinados para que um dia todos fossem considerados iguais. No Brasil, a chegada do operário, grevista da década de 1980, não significou nenhum aumento de direitos para as classes trabalhadores, tampouco o retomada das lutas operárias por melhores condições de vida.

Entretanto, do ponto de vista simbólico, do marketing, da estética e da aparência foi uma grande jogada das classes dominantes para oxigenar o que já está praticamente morto e sem crédito em quase todo o mundo, a saber, a democracia representativa. Por outro lado, os movimentos que levaram esses presidentes ao poder ao invés de ampliar suas forças, diminuíram seu ímpeto. Muitos foram cooptados, outros estão em casa esperando as ações de seu representante, outros que continuaram na luta exigindo mais do governo, foram severamente reprimidos e ridicularizados pela grande mídia. Por fim, estas palavras buscam mostrar que a história nos conta que não adianta ter um representante na presidência da república, mas para melhoria da vida dos trabalhadores é necessário o incremento da luta direta, coletiva e radical na busca por emancipação que só pode se realizar com liberdade e igualdade.

Para finalizar transcrevo literalmente uma passagem do meu livro sobre o governo Lula, mas que neste contexto pode ser generalizada: “O refluxo do movimento social organizado também foi patente, tendo como principal resultado, (...) o fato de as lutas passarem a subordinar-se às esperanças eleitorais, transformando-as de sujeito ativo em sujeito passivo e domesticado da História.”

Wallace dos Santos de Moraes é professor adjunto do curso de Serviço Social da Universidade Federal Fluminense. É doutor em Ciência Política e tem o foco de estudos na relação Capital-Trabalho na América Latina, História do Brasil Contemporâneo e Teoria Social Crítica. É membro do Núcleo de Investigação Social, ligado a UFF.

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