Rio de Janeiro: Grande Manifestação pela Educação Termina em Repressão Policial
Após o governo federal anunciar um corte de cerca de 30% nas verbas discricionárias das Universidades Federais e de alguns colégios como o Pedro II e IF's, verbas estas destinadas diretamente à manutenção das instituições, como luz, água, limpeza e demais gastos, cerca de 200 mil pessoas (apenas no Rio de Janeiro) foram às ruas e caminharam da Candelária até a Central do Brasil. A manifestação foi pacífica até o final, quando houve tensão entre manifestantes e policiais militares próximos ao Campo de Santana. A PM reprimiu os manifestantes com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, que resistiram com rojões e escudos. Um ônibus foi incendiado e usado para conter o avanço dos policiais na Presidente Vargas.
Manifestação
A paralisação da educação do dia 15 de maio foi marcada inicialmente contra a reforma da previdência, mas após os cortes serem anunciados pelo governo, a pauta da educação foi incorporada gerando ainda mais apoio entre a população. A estimativa é que, juntando todas as cidades em que houve protestos, milhões de pessoas tenham ido às ruas nesse dia 15. É o maior ato de rua registrado desde as manifestações pró e contra o impeachment, em 2015.
A concentração ocorreu na Candelária e o protesto caminhou até a Central do Brasil. Trabalhadores do centro demonstraram apoio ao ato jogando papel picado das janelas dos prédios. Gritos de protesto ganharam adesão geral entre os manifestantes, como "não é mole não, tem dinheiro para a milícia mas não tem para a educação", fazendo alusão às suspeitas de envolvimento da família Bolsonaro com milicianos no Rio.
Confronto
Quando chegou na altura do Pantheon de Caxias, onde haviam soldados do exército, manifestantes se revoltaram e demonstraram repúdio ao assassinato do músico Evaldo, fuzilado por militares com mais de 80 tiros. O Pantheon foi pichado e gritos contra o Exército e contra a Polícia Militar começaram a ser entoados. A tensão entre manifestantes e policiais gerou repressão ao ato. A polícia tentou dispersar a multidão atirando bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, além de bombas de efeito moral, enquanto manifestantes resistiram com escudos e atiraram rojões contra os militares. Inicialmente os policiais correram do local.
Logo depois chegaram reforços da PM e o confronto continuou por toda a Presidente Vargas a medida em que os manifestantes tentavam recuar. Algumas pessoas que estavam esperando o ônibus foram atacadas com bomba de gás lacrimogêneo por policiais e entraram em desespero. Os manifestantes queimaram um ônibus atravessado na via para conter o avanço dos policiais, e conseguiram recuar após isso. Pelas ruas ao redor, policiais caçavam manifestantes. Pessoas chegaram a ser espancadas e ao menos 3 feridos foram parar no hospital, além de vários detidos levados para a 4 DP e a 21 DP. Enquanto grupos de estudantes se organizavam na praça Tiradentes para voltarem para suas casas, a PM cercou o local e atirou covardemente contra poucos manifestantes, que não conseguiram resistir e foram encurralados, correndo para a Lapa.
Cortes
Os cortes que motivaram a manifestação significam o possivel fechamento de diversas Universidades Federais e de colégios de excelência como o Pedro II. É o maior ataque à educação desde os cortes orquestrados pelo governo PT em 2015, quando houve uma greve de 4 meses para tentar barrá-los.
Cerca de 30% de cortes nas verbas discricionárias, que significam cerca de 3% nas verbas gerais, na prática são milhões a menos para gastos de manutenção como luz, água, reformas, limpeza e demais gastos necessários para o funcionamento das instituições. A UFF está ameaçada de fechar no segundo semestre, assim como o Pedro II, o CEFET e a UFRJ.
Autonomia Universitária em cheque
Além disso, Bolsonaro ainda decretou o fim da autonomia universitária, que garante ao corpo universitário, composto pelos estudantes, professores e trabalhadores, eleger o reitor, e ao reitor escolher os cargos que irão compor a gestão. De acordo com o decreto do governo, agora é Onix que decide cargos como pró-reitores e afins, além disso, haverá consulta a membros da ABIN para a escolha. Uma clara tentativa de censura e perseguição contra os estudantes e professores.
Aparentemente o governo Bolsonaro nada tem de democrático e não dialóga com a população.