Entregadores Fazem Novo Protesto no Rio
Neste dia 25, sábado, houve a segunda paralisação nacional dos entregadores de aplicativo. No Rio, a concentração começou por volta das 9 da manhã, e durou até a tarde. Os manifestantes se encontraram na Candelária e penduraram faixas e cartazes contra a exploração a que são submetidos pelas empresas de aplicativo.
“Estamos aqui, primeiramente, para ser reconhecidos como funcionários pelas empresas de aplicativo, porque atualmente o que dá dinheiro para essas empresas é elas não reconhecerem nenhum tipo de vínculo com nós entregadores.” - Disse um dos entregadores ao CMI. - “Uma das nossas pautas também é ampliar a nossa taxa mínima e a nossa taxa por quilometragem.”
Atualmente, os entregadores trabalham muito e recebem pouco. Há relatos de pessoas que trabalham até 12 horas em um dia para receber uma média de 50 reais diários. Além de ser uma categoria que sofre com a exploração, os entregadores têm tido um papel fundamental no contexto de pandemia, trabalhando sob forte risco sem qualquer tipo de medida de segurança sendo adotada pelas empresas.
“Outra pauta nossa é EPI, porque nós estamos no meio de uma pandemia. O Ifood disse que forneceu EPI, mas deu para muito poucos entregadores, a maioria não recebeu, e foi uma vez só. É uma coisa que tem que ser contínua, a gente está no meio de uma pandemia, a pandemia ainda não acabou, e o entregador tendo que pagar do próprio bolso álcool em gel, máscara…” - Conta o trabalhador.
Outra realidade à qual são submetidos os entregadores de aplicativo é a dificuldade de alimentação. Muitos trabalhadores da categoria passam o dia inteiro de trabalho sem se alimentar, pois as empresas não fornecem qualquer tipo de auxílio para alimentação.
“A gente passa às vezes o dia inteiro na rua, entrega comida, e tá com fome. Se você compra um prato de comida na rua, dependendo de quanto você ganha no dia, seu dinheiro vai todo embora ali na alimentação, o que é uma coisa absurda…” - Disse o entregador entrevistado pelo CMI – “Água também, a gente não tem direito nem a um copo d’água.”
Os entregadores de aplicativo também sofrem no que diz respeito à segurança. O risco de acidentes é ainda mais grave se pensarmos que as empresas não fornecem qualquer tipo de amparo em caso de acidentes. Além disso, também não tem qualquer assistência os trabalhadores que contraem a Covid-19, mesmo que em decorrência do trabalho, que acaba se tornando uma função de alto risco nessa conjuntura. Um entregador chegou a comparecer à manifestação com muletas, pois havia se acidentado recentemente. Outro organizador do protesto nem mesmo pôde comparecer, pois se acidentou recentemente em Niterói.
“Teve caso de um entregador, que inclusive está aqui, que a empresa falou que já tinha ajudado ele, porque tinha mandado outro entregador terminar o serviço.” - conta o rapaz ao CMI, denunciando a forma como as empresas de aplicativo lidam com acidentes de trabalho.
O levante dos trabalhadores e das trabalhadoras de aplicativo é um marco importante no processo de uberização pelo qual passa a sociedade brasileira. A transformação das relações de trabalho trazida pelo processo de uberização passa por uma destruição de qualquer tipo de direito trabalhista e coloca os trabalhadores em regimes de exploração semelhantes aos das sociedades pós-revolução industrial. Novamente, na História, está dado o desafio de buscar formas de organização e de luta que contemplem os anseios dos de baixo por uma vida digna, e os entregadores que constroem o Breque dos Apps estão dando aula nesse sentido.
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