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Niterói-RJ: População recebe a tocha com protestos e a polícia impõe a festa

Niterói-RJ: População recebe a tocha com protestos e a polícia impõe a festa

Agosto 02, 2016 - 00:00
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Nesta terça-feira, dia 2 de agosto, ocorreram mais manifestações contra a passagem da tocha, desta vez em Niterói e em São Gonçalo, onde manifestantes conseguiram mudar o trajeto da tocha olímpica e fazer com que fosse apagada.

Em São Gonçalo, o ato ocorreu pela manhã e manifestantes conseguiram fazer com que a tocha fosse apagada e atrasar a cerimônia que ocorreria mais tarde na cidade vizinha, onde também aconteceu um ato. Houve manifestantes detidxs nas duas cidades.

Em Niterói, a manifestação durou toda a tarde e boa parte da noite. A concentração começou por volta das 14 horas, na praça Araribóia, no centro da cidade. A manifestação contou com estudantes mobilizadxs nas ocupações de escolas de todo o estado, professoras e professores, movimentos sociais, ativistas em geral e com a população que esperava a passagem da tocha e acabaram se juntaram ao ato.

A Polícia Militar reprimiu a manifestação desde o início usando gás de pimenta. Manifestantes e pessoas que assistiam passaram mal durante a repressão. Uma menina foi agredida por um policial à paisana e foi à 76 DP prestar queixa, porém ao chegar lá, deparou-se com outra pessoa completamente diferente da que a tinha agredido.

Manifestantes tentaram caminhar no sentido Icaraí, quando foram duramente reprimidos pela Polícia Militar e reencontraram-se na Praça Branca, onde continuaram cercados pela PM. Cerca de três manifestantes ficaram feridxs durante a ação e outros dois foram detidos e logo liberados.

Houve uma nova concentração, desta vez na Avenida Amaral Peixoto, onde a tocha passaria para chegar ao caminho Niemeyer. Manifestantes fecharam a rua com a proximidade da tocha e foram novamente reprimidxs. Foi quando houve a necessidade, por parte dos policiais e participantes do evento, de apagar a tocha e guardá-la em um ônibus para seguir parte do trajeto. Novamente houve manifestantes feridos na ação.

O ato acompanhou a passagem da tocha até o final, no caminho Niemeyer, onde, sob revistas truculentas da Polícia Militar, dispersou-se. Um manifestante foi agredido e detido por atirar um papel na tocha, segundo o próprio policial que o deteu.

Entre gritos que diziam “da tocha eu abro mão, eu quero é melhorias para a saúde e educação” e de que “as olimpíadas mata”, o protesto repudiava o alto investimento em uma festa para turistas enquanto a população passava necessidades.

Desde 2009, quando foi anunciado que o Rio de Janeiro sediaria as olimpíadas de 2016, a cidade passou por grandes mudanças, sendo forçosamente adaptada para os interesses de grandes empresas, do capital estrangeiro e para a especulação imobiliária. Em 2010 iniciou-se uma grande onda de remoções de áreas pobres com o discurso de serem necessárias para a construção de parques esportivos e vias de acesso a esses locais para as olimpíadas, em outros casos a justificativa era de risco ambiental.

No entanto, a realidade era a de que essas áreas onde viviam populações pobres, se tornariam muito valorizadas pelas obras para o mega evento, com isso a prefeitura, com auxílio de todo o estado brasileiro, se empenhou na remoção dessa população para em seguida servir à especulação imobiliária. O caminho que liga o aeroporto internacional ao centro e barra foram murados tapando a visão para que os turistas não vissem a grande quantidade de favelas existente na cidade.

Comunidades como a Vila Autódromo, Vila Harmonia, Favela Metro-Mangueira, além de mais de cem outras comunidades, em sua maioria na zona oeste da cidade, foram removidas ou ainda estão em processo de remoção. Dezenas de ocupações de moradia, em sua maioria na região central da cidade também foram removidas. Algumas delas foram desocupadas há mais de 5 anos e até hoje continuam abandonadas. Todas as desocupações ocorreram contra a vontade dos moradores e marcadas por forte repressão policial.

Até Niterói registrou casos de remoções. A Aldeia Imbuhy em jurujuba foi removida para se tornar um resort e área de lazer de oficiais militares. As últimas 35 famílias removidas viviam no local há quase 200 anos e a Aldeia já chegou a ter mais de 100 famílias antes da ditadura militar. A praia do Sossego em Camboinhas ainda vem sofrendo com a ameaça de remoção de três famílias caiçaras que vivem no local há 4 décadas. A área está sendo transformada em local reservado para a população mais rica.

Leia mais sobre alguns casos de remoções registrados pelo CMI-Rio

Famílias foram expulsas de suas casas, grande parte sem direito a nada e sua maioria foi obrigada a aceitar apartamentos do projeto “minha casa minha vida” do governo federal, indo morar em construções em más condições, muito longe de escolas e trabalhos e com insuficiência de transporte público. Foram quase 80.000 pessoas removidas de suas casas em nome das olimpíadas e enriquecimento de grandes empresários.

Outro legado que os mega eventos deixaram para a população foi o aumento da vigilância e controle urbano. Em nome da ordem pública, bilhões foram investidos no aparato de repressão, incluindo as UPPs, perseguições a trabalhadorxs informais, movimentos sociais que contestam os governos, além de maior divisão da cidade, com os cortes de linhas de ônibus que ligam as zonas mais pobres da cidade às zonas mais nobres, onde se encontram as praias os centros culturais e de lazer em geral.

O governo do estado priorizou explicitamente as olimpíadas, deixando de lado a qualidade de vida da população fluminense, o que justifica a revolta em várias cidades em que houve a passagem da tocha. Em quase todas as cidades por onde passou houve grandes manifestações e tentativas de apagar a tocha. Em Angra dos Reis a tocha chegou a ser roubada. Na cidade de Caxias, a tocha teve que seguir um forte contingente policial que abriu fogo com balas de borracha e bombas contra a população. Até mesmo em outros estados houve protestos contra às olimpíadas durante a passagem da tocha.

Nestas cidades, quanto em Niterói e São Gonçalo, a passagem da tocha foi marcada por um grande revolta da população e teve que seguir, em sua maior parte, apagada e dentro de um ônibus. A polícia militar junto com guardas municipais tiveram que usar da violência para impor a festa olímpica.

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