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Governo alemão derruba site Indymedia Linksunten - O que significa e o que fazer

Governo alemão derruba site Indymedia Linksunten - O que significa e o que fazer

Agosto 26, 2017 - 21:06
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O governo alemão proibiu o site do coletivo Indymedia Linksunten linksunten.indymedia.org, a plataforma de língua alemã mais utilizada por organizações políticas radicais. Eles também realizaram batidas na cidade de Freiburg para apreender computadores e perseguir aqueles que acusam de administrar o site, absurdamente justificando isso com base na acusação de que os supostos adminstradores são parte de uma organização ilegal com o objetivo de destruir a Constituição Alemã. Isso representa uma escalada maciça na repressão estatal contra o que as autoridades chamam de "extremismo de esquerda", sugerindo, de forma nada ingenua, uma equivalência entre aqueles que procuram construir comunidades fora do alcance da violência estatal e neonazistas se organizando para realizar ataques e assassinatos como o de Charlottesville na semana passada.

Indymedia foi fundado na Alemanha em 2001 como de.indymedia.org; uma segunda versão apareceu em 2008 como linksunten.indymedia.org. Este último foi fundado para se concentrar em ações políticas radicais no sul da Alemanha, mas logo se tornou a página mais utilizada para ativistas de língua alemã. Como a página original do Indymedia alemão tornou-se tecnicamente desatualizada e inundada por trolling, mais e mais pessoas mudaram para o linksunten.indymedia.org. Em 2013, de.indymedia.org estava quase fechado porque não havia pessoas suficientes envolvidas .

Nos últimos dois anos, mais e mais atenção se acumulou em torno de linksunten, que oferece um espaço para que as pessoas postem anonimamente. Por exemplo, em 2011, um comunicado apareceu na plataforma reivindicando a responsabilidade por sabotagem politicamente motivada na infra-estrutura do metrô em Berlim. O site também foi usado para divulgar informações sobre fascistas e neonazis. Em 2016, um artigo no linksunten apresentou os dados completos de cada participante na convenção do Partido Nacionalista de extrema direita Alternativa para a Alemanha ( Alternative für Deutschland ou AfD), um total de 3000 nomes. Isso atraiu ainda mais a atenção hostil dos defensores de extrema-direita da repressão estatal.

Antes do encontro do G20 de 2017 ter ocorrido em Hamburgo, a mídia corporativa já estava focada em linksunten, declarando que a página servia como coordenação de manifestantes anti-G20. O AfD começou uma campanha contra a plataforma, levando inquéritos sobre o Indymedia no parlamento federal e tentando forçar os governos locais a proibirem a plataforma e outras formas de infra-estrutura radical .

Tudo isso contribuiu para atual situação em que o Ministro do Interior Thomas de Maizière proibiu o site em 25 de agosto, imediatamente antes das eleições. O Estado invadiu três lugares, incluindo um centro social, em Freiburg, tornando toda a cidade sitiada neste dia. Durante as incursões, eles supostamente encontraram alguns estilingues e paus, que agora estão usando como justificativa adicional para sua propaganda sobre o terrorismo .

Na verdade, Thomas de Maizière está seguindo a agenda da extrema direita e fascistas alemães, bem como os objetivos repressivos do AfD.

Claro que aqueles que mantêm o site não escreveram nada que pudesse oferecer motivos legais para este ataque. Mesmo as plataformas de mídia corporativa oferecem espaço para que as pessoas falem anonimamente - por exemplo, quando membros do Departamento de Estado falam com a imprensa sob condição de anonimato. A desculpa que o Estado está usando para justificar este ataque é declarar que aqueles que mantêm o site de linksunten são uma organização criminosa destinada a destruir a Constituição Alemã. Este é um subterfugio legal. Se for bem sucedido, poderá ser facilmente usado contra outras plataformas, revistas e projetos, fazendo com que todos divulgando literatura e ideias radicais e documentando ativismo e movimentos sociais se tornem alvos desse tipo de repressão e violência estatal. Essa é a mensagem que eles querem enviar, a fim de intimidar toda a população a aceitar que a atual ordem política na Alemanha persistirá até o fim dos tempos.

Esta abordagem agressiva mostra o quão amedrontadas as autoridades estão, que ideias radicais estão se espalhando e tornando-se contagiosas após as demonstrações bem-sucedidas contra a cúpula do G20 em julho. Thomas de Maizière deixou claro o suficiente na sua coletiva de imprensa que essa agressão à Indymedia é uma forma de vingança pelo constrangimento que o Estado sofreu durante a cúpula. Isso também mostra como a retórica de extrema direita e estatista é desonesta sobre a liberdade de expressãona verdade, esses hipócritas usam esse discurso somente para reprimir o discurso dos outros. A solução para os fascistas se organizando não é capacitar o Estado para censurar o discurso, mas mobilizar a população em geral contra os fascistas e contra a infra-estrutura estatal que a extrema direita pretende assumir.

Na Alemanha e em todo o mundo, precisamos de teoria e prática radicais; precisamos de espaços onde as pessoas possam se comunicar anonimamente, de modo a não serem intimidadas pelas ameaças duplas da repressão estatal e da violência fascista de base. Para entender movimentos e lutas sociais, para que nossa noção de história não seja varrida em uma torrente de efemeridades, precisamos de repositórios que preservem as comunicações e as contas. Como um autor uma vez disse, a luta da humanidade contra o poder autoritário é a luta da memória contra o esquecimento. Para lutar contra essa repressão autoritária, agora é mais importante do que nunca divulgar material e ideias revolucionárias em todos os lugares e provocar formas alternativas de se comunicar entre si e com o público em geral em tempos de intensificação da censura e do controle estatal. Quanto mais cada um de nós assumir um papel pessoal nessa tarefa, mais descentralizadas e resilientes serão nossas redes.

Se eles vierem por nós esta noite, você pode ter certeza de que virão por você pela manhã.

O ataque ao Indymedia faz parte de uma ofensiva muito maior contra as estruturas radicais. Em Hamburgo, mais de 30 pessoas estão presas desde o encontro do G20 em julho - apoie aqui! . Quanto ao Indymedia, em breve haverá páginas de apoio também. Nós as publicaremos aqui quando aparecerem.

Postscript animador

Quando visitamos o linksunten.indymedia.org depois do post original deste artigo, nós encontramos a seguinte mensagem, junto com o link para o artigo originalmente publicado no Crimethinc e uma imagem fazendo referência ao efeito Streisand, o processo onde os esforços para censurar informações causa sua difusão ainda mais agressiva. O texto desapareceu deste então, mas comprova que pessoas foram capazes de recobrar o controle do domínio, pelo menos por um período. O original estava em alemão, francês e inglês. Esta é uma tradução em português.

[nota da tradução em português: o texto, conforme publicado em https://enoughisenough14.org/2017/08/26/linksunten-we-will-be-back-soon-greetz-from-streisand/ aponta o texto como partes da Declaração de Independência do Espaço Cibernético, escrita por John Perry Barlow em 1996, declaração completa em inglês aqui: https://www.eff.org/de/cyberspace-independence].

Voltamos logo....

Governos do Mundo Industrial, seus cansados gigantes de carne e aço, eu venho do Ciberespaço, o novo lar da Mente. Em nome do futuro, eu exijo a vocês do passado para nos deixar em paz. Vocês não são bem-vindos entre nós. Vocês não possuem soberania onde nos reunimos.

Não temos um governo eleito, nem mesmo é provável que tenhamos um, portanto eu me dirijo a vocês sem autoridade maior do que aquela com a qual a liberdade em si sempre se manifesta. Declaro o espaço social global que estamos construindo naturalmente independente das tiranias que buscam nos impor. Vocês não tem direito moral de nos reger nem possuem nenhum método de repressão que tenhamos verdadeira razão para temer.

Governos derivam seus poderes justamente do consentimento dos governados. Vocês nem solicitaram ou receberam o nosso. Nós não convidamos vocês. Vocês não nos conhecem, nem conhecem o nosso mundo. O Ciberespaço não se limita às suas fronteiras. Não pensem que vocês podem construí-lo, como se fosse um projeto de construção pública. Vocês não podem. É uma força da natureza, e ela cresce através das nossas ações coletivas.

[….]

Na China, Alemanha, França, Rússia, Singapura, Itália e EUA, vocês estão tentando repelir o vírus da liberdade erguendo postos de guarda nas fronteiras do Ciberespaço. Isso pode manter o contágio afastado por um curto tempo, mas eles não funcionarão em um mundo que em breve será coberto por bits.

[….]

Estas crescentes medidas hostis e coloniais nos colocam na mesma posição dos antigos amantes da liberdade e auto-determinação que tiveram que rejeitar as autoridades do passado, poderes desinformados. Precisamos declarar nossos seres virtuais imunes a sua soberania, mesmo que continuemos a consentir com sua regulação dos nossos corpos. Vamos nos espalhar através do Planeta para que ninguém possa prender nossas ideias.

[….]

Texto originalmente publicado por CrimethInc em https://crimethinc.com/2017/08/25/german-government-shuts-down-indymedia...

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Contudo, os meios de comunicação estatais e privados na Alemanha parece estarem quase 100% de acordo, assim como estão 100% de acordo com a intervenção imperial contra o governo venezuelano. Neste último aspecto há uma sintonia total do CMI-Brasil e dos meios imperialistas. Ou seja, parece que o CMI está se queijando aqui por um aspecto menor, marginal, estando de acordo em relação às grandes linhas da política global (ver postagens contra a Venezuela aqui no CMI - uma vergonha pior do que a proibição de uma página da internet na Alemanha, que não passa de um território oficialmente ocupado: quem se surpreende com censura neste contexto?)

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